A cerca de 27 km do centro urbano de Macaé, o Parque Natural Municipal Fazenda Atalaia, popularmente conhecido como Parque Atalaia, representa um patrimônio de valor incalculável para a qualidade de vida local e global.
Este exuberante tesouro ecológico, que hoje ocupa 235 hectares nos distritos de Córrego do Ouro e Cachoeiros de Macaé, carrega em seu território a história de séculos.
A palavra “Atalaia” é um termo de origem árabe “at-talai’a”, que significa “lugar elevado para vigilância” ou “sentinela”.
No século XVI, muito antes de ser colonizado e se tornar fazenda, este local era habitado pelos povos indígenas Saruçus ou Sacurus. Esses povos indígenas que viveram em relativo isolamento nas serras da região, figuram entre os últimos grupos indígenas a serem contatados pelos catequizadores e colonizadores.
Com a chagada dos Jesuítas, passou-se a instalar freguesias, nos locais onde havia aldeamentos. Sendo assim, a região da serra macaense que era denominada Aldeamento de Santa Rita do Sertão do Rio Macaé, tornou-se Freguesia de Nossa Senhora das Neves do Sertão do Rio Macaé.
Ali, também, passaram a catequizar e aldear os Sacurus, o que resultou na perda de suas práticas tradicionais e na adoção de costumes europeus.
Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, deixando os indígenas vulneráveis e com dificuldades de manter suas tradições. A partir desse ponto, os Sacurus foram se misturando com outros grupos, como os indígenas do vale do Macabu, e com os colonos europeus, resultando na perda da identidade étnica. A colonização europeia, com a instalação de fazendas e engenhos, também contribuiu para a diminuição e desaparecimento da população Sacuru.
Já no século XIX, o local onde se encontra o parque foi alcunhado por Fazenda de São Manoel do Atalaia, por conta de sua relevância, deu suporte à emancipação de Macaé como Vila em 1813 e pertenceu ao Barão de Mauá até cerca de 1872, passando posteriormente para a tutela do Banco do Brasil, após a falência do nobre.
Em 1896, a Câmara Municipal adquiriu as terras com o objetivo utilizar e proteger os mananciais hídricos. A visão estratégica se concretizou em 15 de novembro de 1914, quando o primeiro prefeito municipal, Moreira Neto, inaugurou o serviço de abastecimento de água. Esse marco foi celebrado com palmas, foguetório e apresentação das bandas.
Curiosamente, no mesmo 15 de novembro de 1914 em que se inaugurava o sistema de água – captada no Atalaia, armazenada em Sant’Ana e distribuída à população – também era aberto o Mercado Municipal de Macaé, que permanece até hoje em seu local original, testemunhando essa história que une desenvolvimento urbano e conservação ambiental.
A água era captada no manancial da Fazenda Atalaia e armazenada no reservatório do Morro de Santana (ao lado da Igreja de Sant’Anna).
Porém, naquele tempo, não havia abastecimento direto em todas as torneiras das casas e comércios urbanos, por esse motivo, a água do reservatório do Morro de Santana, também era distribuída através da famosa “bica da Aroeira” no bairro de mesmo nome, onde se formavam longas filas de moradores em busca da água considerada milagrosa e medicinal.
Mesmo após a década de 1960, com o sistema moderno de tratamento já implantado, a tradição da “bica da Aroeira” continuou atraindo muitos adeptos.
A tubulação que até hoje transposta a água do Parque Atalaia ao reservatório do Morro de Santana, é a original. O reservatório ainda está ativo, com esse sistema centenário.
Instituído oficialmente como Unidade de Conservação de proteção integral em 27 de abril de 1995 pela Lei 1.596/95, o Parque Natural Municipal do Atalaia tem como missão primordial proteger a Mata Atlântica, declarada “hotspot” mundial de biodiversidade.
“Hotspot” em ecologia refere-se a um conceito criado pela Conservation International para designar áreas que combinam dois critérios essenciais: alta biodiversidade (com grande número de espécies endêmicas, exclusivas da região) e extremo grau de ameaça (apresentando menos de 30% de sua vegetação original remanescente)
Os mananciais hídricos e a rica avifauna local, são verdadeiro patrimônio natural da humanidade. A cobertura vegetal divide-se entre a Floresta de Baixada (até 50m de altitude) e a Floresta Submontana (50m a 500m), abrigando espécies endêmicas de grande valor ecológico.
Desde o final do século XIX, a área já era reconhecida como reserva biológica fundamental para o saneamento e urbanização de Macaé
Mais do que uma reserva ecológica, o Atalaia é um espaço vivo de conhecimento e convivência harmoniosa com a natureza. Com quatro trilhas para caminhada e observação, o parque oferece oportunidades únicas para ecoturismo, pesquisas científicas e cursos nas áreas ambiental, de sobrevivência e fotografia.
A explosão de luzes, cores, formas e sons da fauna e flora local transforma cada visita em uma experiência inesquecível, reforçando o potencial turístico sustentável da região.
Infelizmente, neste momento o parque está fechado para visitação, por motivo de reforma. Mas quando tiver uma oportunidade, super recomendamos a imersão e o banho de natureza que o local proporciona.
Autores: Grazielle Heguedusch, Janne Lis e Rúben Pereira – Desvendando Macaé
