Meu desejo pela maternidade nasceu ainda na infância, quando cuidava das minhas bonecas como se fossem reais — não podia deixá-las sozinhas, nem por um instante. Mais tarde, esse instinto se manifestava quando tomava conta dos meus primos mais novos, ou do meu irmão caçula.
À medida que crescemos, percebemos que esse desejo se transforma em uma ânsia quase inexplicável, comum a muitas mulheres que, de forma consciente ou não, moldam suas vidas para esse papel. A verdade é que só compreendemos, em profundidade, o que isso realmente significa quando finalmente nos tornamos… mães.
Quando me tornei mãe, foi como um renascimento interior. Foi mágico — e precisava ser —, para que eu encontrasse forças diante de tudo o que, do lado de fora, recaía sobre mim, e do lado de dentro se manifestava.
Guardamos muitos segredos e sentimentos para proteger o mundo ao nosso redor. Mas e o nosso mundo interno? Onde repousa a voz de uma mulher em apuros com uma criança nos braços? Onde se escuta sua dor, seu cansaço, seu clamor silencioso?
A mulher foi criada com maestria pelo Divino — e acredito que é por isso que carregamos tamanha força bruta, essa fome insaciável de vida e entrega.
Meus momentos mais vulneráveis vieram logo após os dois meses de gravidez, quando, por imposições externas, fui obrigada a esconder minha gestação.
Percebi aí, que em toda forma mais intensa de amor também existe uma dor, tão profunda que nem o tempo foi e é capaz de curar.
Quando se é mãe, todo o sentimento intensifica e essa é uma parte de minha história que engasga na garganta, que dói o peito e me faz refletir sobre todos os pesos que uma mãe carrega além da barriga.
É preciso falar das feridas de uma mãe. Das entrelinhas silenciosas que se escondem por trás de um sorriso.
A dor de não poder viver abertamente o meu sonho, de ter que sufocá-lo por tanto tempo, me fez renascer como uma leoa — dessas que defendem sua cria com garra, em qualquer batalha.
Ser mãe vai muito além de ter um filho. Ser mãe é exalar o feminino pelos poros, pelo olhar. É como sangrar em silêncio, constantemente, sem se dar conta.
O inconsciente não tem censura — e por isso, é lá que reencontramos, vez ou outra, a força que existe em nós, mulheres.
Ser mãe é ser selvagem, é continuar caminhando mesmo sob a chuva e o frio, com o peito cheio de medo e o rosto erguido.
Foi na maternidade que descobri do que uma mulher é capaz: ultrapassar limites, conquistar espaços, realizar o impossível.
Carregamos a força do útero — quente, vermelho, pulsante — que nos garante a vitória diante de qualquer obstáculo.
Em nós, a fúria conversa com a doçura, o choro dança com o sorriso. E assim seguimos, dia após dia, feito maré que insiste em voltar.
Conto os dias, pedindo calma ao tempo, tentando conciliar o relógio da maternidade com o do meu feminino profundo. Não é uma tarefa fácil — e hoje entendo que as minhas mães também enfrentaram essas batalhas invisíveis.
Percebo — e compreendo com o corpo e a alma — que a vida está em nós, nasce de nós e é generosamente doada por nós.
Sou rio. E fluo.
Sou mulher.
Sou mãe.