GIRO NA DIVERSIDADE – As Paradas LGBT+ no Brasil e no mundo, que já foram símbolo máximo de resistência e celebração, vêm registrando queda de público nos últimos anos. Para a geração anterior, participar da Parada era um ato de libertação: ocupar as ruas com orgulho significava enfrentar medo, invisibilidade e discriminação. Hoje, a comunidade LGBT+ conquistou direitos importantes, como o reconhecimento da união estável homoafetiva (STF, 2011), o casamento igualitário (CNJ, 2013) e a criminalização da LGBTIfobia (2019), e muitos jovens não viveram essa mesma realidade de medo. Com isso, o papel da Parada como espaço de libertação é percebido de forma diferente pelas novas gerações.
Outro ponto é a diferença geracional. A Geração Z cresceu em um cenário de maior visibilidade e direitos, e frequentemente se engaja nas causas pela internet, em redes sociais e plataformas digitais, sem precisar ocupar fisicamente as ruas. Já os Millennials viveram o auge das Paradas como espaço de libertação e protesto, e muitos se afastaram dos eventos de rua por sentirem que o formato perdeu força ou relevância. O resultado é que o público tradicional se distancia, e o evento precisa se reinventar para dialogar com diferentes formas de ativismo e expressão.
Em resposta à queda de público, várias ONG’s passaram a apostar em shows de artistas nacionais para atrair público. Embora a estratégia funcione, alguns ativistas questionam se isso não tira o foco da causa original da Parada. Quando o entretenimento se torna o principal motivo de comparecimento, o grito coletivo de visibilidade corre o risco de se perder. A chamada “capitalização arco-íris”, em que pessoas associam-se à causa apenas para se promover ou obter benefícios pessoais. E isso contribui para a sensação de que a Parada virou um espetáculo mais do que um protesto.
Outro fator que ajuda a explicar o esvaziamento é a própria transformação social. Boates, que antes funcionavam como refúgios seguros para a comunidade LGBT+, também sofrem com mudança de hábitos. A Geração Z se engaja mais em redes sociais, eventos diurnos, esportivos, tecnológicos, e já cresce com direitos garantidos, sem a vivência do medo que marcou as gerações anteriores. Já os Millennials, que viveram o auge das Paradas como espaço de libertação, se afastam em parte por repetição e perda de propósito.
A Parada não vai voltar a ter força sozinha. Se continuar como espetáculo vazio, com shows sem causa e hashtags vazias, vai se apagar. O que precisamos é de coragem, criatividade e presença real: cada geração precisa ocupar o espaço que é seu, trazer diversidade, celebrar, protestar e se conectar de verdade. A Parada só será grande se cada pessoa sentir que está ali por si, pelo outro e por toda a comunidade. Caso contrário, será apenas mais uma festa que esquece por que nasceu.














