Ao refletir sobre minha trajetória, percebo que aquilo que antes me movia já não tem a mesma intensidade ou forma. Em uma tarde de domingo, sob o sol forte e com uma praia impecável à minha frente, observei e me comparei com realidades tão distantes da minha, e me perguntei: “É isso que eu realmente deveria estar fazendo?”
Quando o dia começou a se despedir, levei meu filho, que quase completava 2 anos, para brincar com terra e um pratinho simples. Não havia nada de extraordinário, mas a cena me tocou profundamente. Ele estava imerso na felicidade pura, pegando terra e colocando no pratinho por mais de uma hora, sem pressa, sem distrações. Ali, entendi que o extraordinário reside no ordinário, nas pequenas coisas da rotina que, embora exijam de nós cansaço físico e mental, nutrem a alma de maneira profunda.
Vivemos em uma era saturada de distrações, onde estamos incessantemente em busca de algo que nem sabemos o que é, e que provavelmente nunca saberemos.
É uma aceleração sem sentido, uma corrida em direção a um destino ilusório. No entanto, o trabalho de uma faxineira que sorri, o esforço de uma mãe que se dedica ao lar com amor, o empenho de uma cozinheira que, mesmo sob o calor imenso, prepara uma refeição com cuidado… tudo isso é, sim, extraordinário.
O mundo das comparações tem roubado o nosso contentamento, distorcendo o verdadeiro propósito da vida. Quando sinto a necessidade de me reconectar, volto ao que sempre esteve ali. Olho para o mar, que se renova incessantemente, para os pássaros que buscam e encontram sua comida com perseverança. Observo uma cama arrumada, uma geladeira cheia, uma família unida. E é nesses pequenos detalhes que me reabasteço, me reencontro, me reconstruo.
A vida crua, verdadeira, reside nos lares, nos gestos simples e cotidianos. Mas a vida que questiona constantemente o “por quê” e o “para quê” é a realidade que muitos de nós enfrentam em nossos lares. Enquanto o tempo escorre sem pedir permissão, nos encontramos cegos, correndo à frente dele, acelerando uma vida que, no fim das contas, estamos perdendo.
Me parece que tudo o que vivenciamos em 2020, todas as experiências internas que nos marcaram, não passam de uma ilusão. A vida, que só parece oferecer seu verdadeiro significado quando buscamos o fútil e o superficial, já não tem mais base sólida em nossa lista de prioridades diárias. Tudo é apressado, atropelado.
Mas a pergunta persiste: Por quê? Para quê?
Acredito que cada pessoa carrega dentro de si a essência original do que faz a vida ser boa — uma percepção de que as coisas já são valiosas no simples, sem a necessidade de complicá-las. No entanto, tendemos a nos apegar à complexidade, a criar problemas onde não existem e a acreditar que o caminho do outro é o nosso. Nesse processo, estamos perdendo nossa identidade e a capacidade de enxergar a verdadeira beleza nas coisas.
Essa reflexão me leva a questionar minha própria hipocrisia e insatisfação, quando, na realidade, seria necessário mudar o rumo. Quero convidá-lo a olhar, assim como fui orientada a olhar, para o trajeto que temos percorrido, para a forma como as pessoas têm conduzido suas vidas e como frequentemente acreditamos que todas as direções são corretas e não é bem assim…
Olhe ao seu redor, valorize o que você já tem, e talvez, ao fazer isso, redescubra o verdadeiro significado da vida, retome o rumo com propósito.