Você já foi a uma degustação de vinhos? Daquelas feiras com stands, um monte de gente andando, girando a taça, provando… e alguns, sim, cuspindo?!
Pois é. Vou te contar um pouco sobre isso. Mas antes, deixa eu me apresentar.
Sou Rafael, sommelier desde 2016. Já atuei em restaurantes, importadoras e hotéis, trabalhando com curadoria, montagem de cartas de vinho e eventos. Atualmente, sou head sommelier da rede de wine bars Vino!, com lojas espalhadas pelo Brasil, onde também dou treinamentos e cuido do conteúdo de vinhos.
Mas já falei demais de mim — vamos ao que interessa: vinho. Afinal, você bebe ou degusta vinho? Sim, há uma diferença, e ela importa.
Beber vinho é prazeroso, casual. Pode ser num jantar com amigos, numa conversa boa ou simplesmente naquele momento em que você puxa uma garrafa da adega, se joga no sofá e curte o vinho. É sobre desfrutar.
Já a degustação é mais técnica, profissional mesmo. A gente analisa o vinho por completo: primeiro a cor, observada numa superfície clara pra captar nuances; depois o aroma, aproximando a taça do nariz antes e depois de girar o vinho (sem derrubar na roupa ou no colega ao lado, por favor). A oxigenação intensifica os aromas — e muda muito, pode acreditar.
Na boca, o vinho percorre todas as regiões: língua, céu da boca, bochechas. A gente até puxa um pouco de ar pra ajudar a abrir mais o vinho por dentro. E aí, sim, o vinho é cuspido. Isso mesmo. Em degustações com dezenas — às vezes centenas — de rótulos, não tem como engolir tudo. A ideia é absorver o mínimo de álcool possível (e mesmo cuspindo, uma parte ainda entra na corrente sanguínea, então nada de dirigir depois).
Recentemente, fui a uma feira aqui em São Paulo. O que percebi foi que essas feiras mudaram — e pra melhor. Antes, eram espaços quase exclusivos de profissionais debatendo vinhos de forma técnica, muitas vezes beirando a arrogância. Hoje, são mais abertas, inclusivas. O público em geral participa, aprende, prova junto com quem trabalha com vinho. Eu mesmo conheci vinhos da Armênia — destaque pra Areni Noir, uma uva que rende tintos potentes e cheios de personalidade.
Claro que ainda tem gente que torce o nariz: “não dá pra provar com calma”, “vinho é sagrado”, “precisa de cerimônia”. Entendo. Mas o mercado e o consumidor de hoje são mais dinâmicos. Há espaço tanto para o vinho do dia a dia, que aproxima e cria cultura, quanto para aquele vinho especial, de guarda, reservado para ocasiões únicas.
Essa diferença entre beber e degustar é parte do charme do vinho. E quanto mais acessível, mais gente se apaixona, mais histórias se criam. No fim das contas, trata-se de equilíbrio — uma taça em cada mão.