GIRO MARICÁ – A Lagoa de Jacaroá, em Maricá, na Costa do Sol, se tornou cenário de um espetáculo natural nos últimos dias: à noite, suas águas ganharam um brilho azul intenso, chamando atenção de moradores e viralizando nas redes sociais. O fenômeno, confirmado por especialistas, é resultado da bioluminescência de microalgas conhecidas como dinoflagelados.
Segundo os pesquisadores do projeto Lagoa Viva — uma iniciativa da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) —, essas microalgas emitem luz como mecanismo de defesa. “Quando há um estímulo mecânico, como a passagem de um peixe ou o movimento das ondas, elas liberam uma enzima que reage com o oxigênio, emitindo luz. O que vemos é o brilho gerado por bilhões dessas microalgas tentando se proteger”, explica Alexander Ventura, pesquisador da UFF e gerente científico do projeto.
Origem no mar aberto
Os cientistas não identificaram alterações significativas nas condições da lagoa, como aumento de matéria orgânica, que favorecessem uma proliferação local das microalgas. A hipótese mais provável é que os organismos tenham se multiplicado em alto-mar e entrado no sistema lagunar com a maré, trazidos pelas ressacas. “Elas gostam de água mais quente, então, com a queda de temperatura nos próximos dias, é possível que o fenômeno desapareça rapidamente”, avalia Ventura.
Efeito visual, não indicativo de poluição
Os pesquisadores alertam que a presença dessas microalgas não está relacionada diretamente à qualidade da água, seja positiva ou negativamente. “É um fenômeno natural, e não representa risco. Não é um sinal de que a lagoa esteja mais limpa ou poluída”, reforça Beatriz Gonçalves, química e coordenadora do Laboratório de Nutrientes do projeto Lagoa Viva.
Luz como proteção — ou atração
O brilho serve principalmente como mecanismo de defesa, assustando predadores como peixes filtradores e tainhas, comuns na região. No entanto, a emissão de luz também pode ter outros papéis na natureza, como a atração de presas ou parceiros reprodutivos. “Várias espécies usam a bioluminescência de maneiras diferentes, e isso ainda é objeto de estudo”, destaca Joel Júnior, engenheiro ambiental da UFF e coordenador de laboratórios do projeto.
Embora também existam emissões de luz em outras cores, como o vermelho, o azul é o mais visível e eficiente na água, razão pela qual predomina nesses casos.
O fenômeno pode durar poucos dias, mas enquanto permanece, transforma a lagoa em um raro e fascinante espetáculo da natureza — um lembrete do quanto os ecossistemas aquáticos ainda têm a surpreender.