GIRO NA ECONOMIA – Muito tem se falado sobre o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. A medida — que aplica uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados ao mercado americano — gerou alarde entre analistas e políticos. Mas, ao contrário do que muitos pensam, quem mais sentirá os efeitos será o próprio consumidor americano.
O Brasil passou a integrar, ao lado da Índia, a lista dos países com as maiores tarifas para entrada de produtos nos Estados Unidos. No caso indiano, as razões são geopolíticas, relacionadas à compra de energia de países como a Rússia. Já no caso brasileiro, Trump justificou a sanção com base em interferência do governo federal sobre empresas de tecnologia americanas, como Google, Meta e X, obrigadas a restringir conteúdos no Brasil e questões políticas. Com isso, ele invocou a Lei Magnitsky e impôs a tarifa como retaliação.
É importante entender que essa tarifa não recai sobre produtos americanos que vêm para o Brasil — o que encareceria importações por aqui. A tarifa é imposta aos produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, o que significa que quem paga mais caro são os americanos, não os brasileiros.
O produtor brasileiro, em tese, continua vendendo pelo mesmo preço — mas agora seu produto chega mais caro no mercado americano, por causa da taxa. No curto prazo, pode haver algum impacto para quem exporta diretamente para os EUA, com possíveis cancelamentos de pedidos ou necessidade de redirecionamento. Mas a longo prazo, a demanda por muitos desses produtos tende a se manter — especialmente no caso de itens que os Estados Unidos não conseguem substituir com facilidade, como carne e café.
O tarifaço excluiu mais de 700 produtos de uma lista de exceções. Mas manteve itens como carne e café, justamente dois dos maiores destaques das exportações brasileiras. Ainda assim, o impacto direto sobre o Brasil deve ser limitado.
O Brasil é o maior produtor de café do mundo — e a oferta global da commodity está apertada, devido a eventos climáticos recentes. Os EUA, por sua vez, são um dos maiores consumidores. Mesmo com a tarifa, os americanos provavelmente continuarão comprando do Brasil. O mesmo vale para a carne, com frigoríficos brasileiros abastecendo grandes redes de fast food dos EUA. Nesse caso, a alternativa ao produto brasileiro seria escassa e mais cara.
A curto prazo, caso alguma carga não seja vendida aos EUA, esses produtos permanecem no mercado interno brasileiro, o que aumenta a oferta e pode fazer os preços caírem — especialmente no caso do café, que acumula alta significativa nos últimos anos.
Esse cenário, ainda que temporário, pode beneficiar o consumidor brasileiro, especialmente se os produtores não conseguirem realocar rapidamente os produtos para outros mercados.
É natural que medidas vindas da maior potência do mundo causem receio — e não faltam políticos e analistas usando o tarifaço como palanque, seja para atacar, seja para defender o governo brasileiro. Mas o cenário exige análise sóbria. O tarifaço é, antes de tudo, uma punição política de Trump, mas o maior prejudicado não é o Brasil — é o próprio consumidor americano, que terá de pagar mais caro por produtos que ainda precisa consumir.
O Brasil, por sua vez, tem uma oportunidade de se fortalecer, diversificando mercados, aumentando sua competitividade e aproveitando, inclusive, o possível aumento da oferta interna de produtos estratégicos.
Por: Vitor Vargas / V.V. Consulting