Sabe quando se está no primeiro encontro e você não sabe muito bem onde coloca a mão, como fala… como se comporta?
Bem, é assim que eu me sinto agora contigo. Sim, contigo. Você que está me lendo agora.
A vida inteira eu escrevi. Sem o compromisso de ser lida. A vida inteira eu sonhei com esse encontro e agora que ele está acontecendo, eu não sei muito bem como lidar.
Mas vou me esforçar pra te conquistar, caro leitor. Afinal date com vinho já é bom sinal.
Bem, vamos começar do início. Acredito que agora seja o momento apropriado para eu me apresentar.
Um -hum…(limpando a garganta com um charme inseguro)
Chamo-me Geni Machado, tenho 33 anos (caramba, já), sou neta de produtor agrário (vim da famosa roça), sou filha de dona de restaurantes, sou publicitária antes de tudo, mas a vida me fez empresária e especialista em vinhos.
Hoje lidero a Madame Merlot Adega gastronômica, em Rio das Ostras. Qualquer dia que quiser me fazer uma visita, vai ser um prazer te receber.
A Madame tem 2 aninhos. Mas a minha história com vinho começa bem antes. Eu não sei precisar quando exatamente, porque o vinho aconteceu na minha vida de maneira tão natural, é como se ele sempre estivesse lá.
Mas sempre tem os dias que marcam e neste dia eu estava sentada com minha mãe no sofá, com um espumante barato dentro de um balde de gelo. O balde não era chique. Era um balde de margarina direto da cozinha industrial dos restaurantes da minha mãe.
Antes um pouco do ano novo. Sentamos naquele sofá e degustamos uma garrafa inteira. Àquela época eu sabia muito menos sobre vinho do que sei hoje. Estava no auge da sabedoria dos meus 18 anos.
Naquela noite, degustamos uma reconciliação e o vinho nos assistia. Naquela noite eu nem sabia que a vida já estava conectando os pontos.
Naquela noite nos tornamos mais mãe e filha e eu mais apreciadora de vinhos.
Bem, mas estamos aqui para falarmos sobre harmonização. Mas talvez já estejamos falando de harmonização. Acho que é isso (às vezes me perco, tenho TDAH e, recentemente, minha psicanalista está desconfiada de uma dislexia, mas pelo bem do meu bem-estar eu parei de investigar).
Vinho no Brasil é chique. Na Europa vinho é alimento. No meio deste hiato temos um abismo. Se vinho é alimento, geralmente nas receitas, nós procuramos alimentos que combinam, certo?
Não temos o costume de misturar feijão com achocolatado. Mas adaptamos um dos símbolos da culinária brasileira para uma feijoada de frutos do mar. Neste segundo caso mudamos o tipo do feijão para harmonizar melhor com a proteína. Percebe?
Inovações são possíveis. E você talvez me diga que goste de feijão com achocolatado. E eu vou acreditar, você não mentiria no nosso primeiro encontro, mentiria?
Mas vamos concordar que não é gosto comum misturar feijão com achocolatado, não é verdade? Isso faz parte de uma individualidade. Uma peculiaridade da individuação do ser. Caramba, falei bonito. Freud ficaria orgulhoso.
Esse pode até ser seu charme, gostar de feijão com achocolatado. Mas não vai agradar a maioria. Será exótico.
E no caso da harmonização nós temos para além de regras, leis químicas que nos regem. Exemplo: para comidas ácidas, vinhos com acidez alta, porque acidez com acidez reforça a doçura. Pode parecer estranho, mas é similar a menos com menos dá mais.
O Sal reforça o sabor dos alimentos e faz a mesma coisa com o vinho. Claro, vinho é alimento. Então comidas salgadas vão intensificar a fruta e os sabores do vinho.
O açúcar vai fazer exatamente o contrário. Se tem um bom vinho a ser degustado, fuja do doce. Ele está aí para roubar e matar todas as características do seu vinho.
Ué… então comida doce não tem harmonização? Claro que tem. Com vinho doce.
Temos harmonizações clássicas, mas cá entre nós? Há de se avaliar caso a caso.
Mas vamos lá, meu momento Merchant; pensemos em pratos do cardápio do meu restaurante e opções de vinhos que eu trabalho para você poder harmonizar.
Temos o mar negro: risoto de arroz negro com frutos do mar frescos (fresquíssimos mesmo, pescados em Rio das Ostras). Com que vinho eu harmonizaria?
Certamente um branco. Nunca um tinto para frutos do mar. Por que não um tinto? Frutos do mar são ricos em iodo, tintos geralmente têm taninos. Essas duas substâncias unidas dão um sabor metálico em boca.
Não é legal!
Mas voltando ao mar negro, se eu quisesse um vinho mais econômico, eu iria no Mariana branco alentejano. Vinho equilibrado que pelo custo traz até uma complexidade interessante. Notas florais, lichia, lima, limão. Acidez vibrante. Iria muito bem com o risoto. Este vinho custa 115,00 na adega. Preço de internet.
E se estamos em um dia para degustarmos um grande vinho e o preço não importa, o Chablis Premir Cru Laroche, safra 2022. Este custa 599,00 (também preço de internet) é uma harmonização espetacular. Aqui vamos sentir muita fruta fresca, notas de lima, limão e aquele toque de mineralidade que só Chablis é capaz de entregar.
Não poderia sair daqui sem harmonizar a paixão do brasileiro; arroz, farofa, carne e batata frita. Sim, temos esse prato aqui na Madame. Com nosso toque, claro, mas a chapinha da Madame é feita para atender um publico mais raiz. Menos “gourmetizado”. Por assim dizer.
Poderíamos harmonizar com um merlot da Lídio Carraro, vinícola Boutique que faz vinhos com baixa intervenção. Merlot de corpo médio pra mais. Notas de frutas pretas como ameixa, framboesa, cereja preta. Custa 109,00 e a chapinha 89,90.
Agora se a gente quiser degustar um vinho com outra proposta, também podemos pensar no Petit Verdot single vineyard. Vinho uruguaio da Garzón, vinícola que vem se destacando no cenário global na produção de vinhos de alta qualidade.
O Petit Verdot vai entregar muita elegância e muita fruta fresca. Potência aveludada. Vinho carnudo que vai acompanhar muito bem nosso prato nacional preferido.
Agora, se você não quiser harmonizar nada com nada, posso te falar a verdade? Seu vinho, suas regras. Não sou eu que vou ficar sendo a enochata falando do que você pode ou não.
A única coisa que não pode faltar ao redor do vinho, são pessoas de coração aberto querendo viver um momento delicioso. Seja entre amigos, amores, mãe e filha ou consigo mesmo.
O que não pode faltar na harmonização do vinho é o maior alimento de todos e que o vinho é simbolizo; o sangue de Cristo. O que não pode faltar na harmonização com o vinho, é o amor.
Foi um prazer, caro leitor.
Se gostou desse date. Me manda uma mensagem para marcarmos o próximo.
Estarei sempre por aqui e no Instagram como @genimachado_.
Saúde!