GIRO NA NEUROPSICOPEDAGOGIA – Trabalhando com famílias e crianças em diferentes contextos de desenvolvimento, percebo que um dos temas mais dolorosos — e menos falados — é o abandono parental diante da deficiência. Não se trata apenas da ausência física, mas também da ausência emocional que nasce quando um pai ou uma mãe não consegue lidar com a realidade de um diagnóstico inesperado.
Descobrir que um filho tem uma deficiência é um momento que abala o chão de qualquer família. Sonhos, planos e expectativas se misturam ao medo, à culpa e à dor. Alguns pais, sem preparo emocional ou apoio adequado, acabam se afastando — física ou afetivamente — deixando a criança e o cuidador principal enfrentarem sozinhos um caminho que deveria ser trilhado em conjunto.
Esse abandono não nasce da falta de amor, mas muitas vezes da incapacidade de lidar com a frustração e o desconhecido. O medo do julgamento social, a negação e a sensação de impotência criam um bloqueio interno que paralisa. Em vez de buscar ajuda, alguns pais se retraem — e o silêncio se transforma em ausência.
O impacto desse afastamento é profundo. A criança, mesmo sem compreender totalmente, sente a falta de vínculo, o vazio do olhar que deveria acolher. Já o cuidador principal carrega o peso de ser tudo ao mesmo tempo: apoio emocional, estrutura financeira e presença constante.
Como profissionais da educação e da saúde, é essencial olhar para essas famílias sem julgamento. O abandono revela feridas emocionais antigas e carências de suporte social. Por isso, acolher o pai que se distancia é também cuidar da criança — ajudá-lo a elaborar o luto pela idealização de um filho “perfeito” e abrir espaço para o amor real, que se constrói na aceitação.
A conscientização, o diálogo e o acompanhamento psicopedagógico e terapêutico são caminhos possíveis para reconstruir vínculos e fortalecer laços. Toda criança precisa de afeto, e todo pai pode aprender a amar de novo — não o filho que imaginou, mas o filho que tem, com toda a sua singularidade e beleza.
Que possamos enxergar, em cada diferença, uma nova forma de amor.
E que o encontro entre pais e filhos aconteça não na perfeição, mas na verdade do sentir.














