GIRO NA ECONOMIA – Em minha trajetória de quase duas décadas gerenciando projetos de grande porte – desde plataformas de extração marítima na Petrobras até iniciativas de inovação tecnológica no Parque Tecnológico Itaipu – aprendi que existe um abismo entre liderar de fato e apenas gerenciar métricas. A recente saída de Elon Musk do DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) nos força a uma reflexão incômoda: quantos de nós estamos realmente liderando, e quantos estão apenas fingindo?
Quando coordenei equipes multidisciplinares ou em sala de aula com alunos de diferente histórias e gerações, enfrentei o mesmo dilema que Luis Enrique encontrou ao assumir o PSG: como transformar um grupo de especialistas talentosos em uma equipe coesa? A resposta não estava nos frameworks de gestão que eu dominava, nem nas certificações PMP que ostentava. Estava na capacidade de sair da zona de conforto dos relatórios e mergulhar na complexidade humana dos projetos.
Luis Enrique revolucionou o PSG não por implementar táticas mirabolantes, mas por fazer algo aparentemente simples: conhecer profundamente cada jogador, entender suas motivações e criar um ambiente onde o talento individual servia ao propósito coletivo. Na indústria petrolífera, apliquei princípio similar: antes de definir cronogramas e orçamentos, investi tempo conhecendo engenheiros, técnicos e operadores. Descobri que um operador de plataforma pode ensinar mais sobre gestão de riscos do que qualquer manual do PMI.
A provocação sobre “fingir que lidera” ressoa especialmente em ambientes corporativos onde KPIs e dashboards se tornaram escudos para evitar conversas difíceis. Durante minha experiência como coordenador de paradas de produção programada, implementei sistemas sofisticados de monitoramento de projetos – ferramentas que hoje reconheço como necessárias, mas insuficientes.
A verdadeira liderança se manifestou quando tive que comunicar a investidores e clientes que um projeto promissor teria que atrasar propositalmente o seu início. Não havia dashboard que suavizasse a mensagem. Foi preciso assumir a responsabilidade, explicar os aprendizados e propor novos caminhos. Essa vulnerabilidade calculada – admitir erros sem perder a credibilidade – é o que separa líderes autênticos de gestores de planilhas.
Minha formação híbrida – combinando o rigor acadêmico com a experiência prática em projetos de alta complexidade – me ensinou que liderança eficaz requer constante aprendizado. Assim como Luis Enrique estudou obsessivamente cada adversário do PSG na Champions League, dedico-me a entender as nuances de cada projeto, cada stakeholder, cada desafio regulatório.
Ao orientar trabalhos acadêmicos, percebo como a nova geração anseia por líderes que transcendam o gerencialismo superficial. Eles querem mentores que compartilhem fracassos reais, que demonstrem como navegar em ambientes de incerteza sem perder o norte estratégico.
O teste da liderança real
A saída de Musk do DOGE é um lembrete brutal: liderança sem adaptabilidade é apenas teimosia disfarçada. Em meus projetos de consultoria através da VV Consulting, enfrentei situações onde a rigidez poderia ter sido fatal. Quando um cliente do setor energético enfrentou mudanças regulatórias abruptas, a solução não estava em insistir no plano original, mas em reimaginar completamente a abordagem.
Luis Enrique enfrentou críticas ferozes ao mudar táticas consagradas do PSG. Eu enfrentei resistências similares ao propor metodologias ágeis em ambientes tradicionalmente waterfall. A diferença entre sucesso e fracasso estava na capacidade de comunicar a visão, envolver as equipes no processo de mudança e, principalmente, demonstrar resultados incrementais que validassem a nova direção.
Métricas que Importam: além dos números
Minha experiência com análise de riscos – desde modelos econômicos até indicadores de desempenho – me ensinou um paradoxo: os números mais importantes são frequentemente os mais difíceis de medir. Como quantificar o impacto de um líder que inspira um engenheiro júnior a propor uma solução inovadora? Como medir o valor de uma cultura organizacional que transforma erros em aprendizados?
Nas empresas que passei entregando projeto de alta complexidade no prazo ou até mesmo antes, quando o normal era atrasar, ou a busca feroz por redução de custos e, principalmente na V.V. Consulting (e MedGroup) uma empresa que começou apenas com uma pessoa e hoje fatura milhões de reais, com mais de 500 colaboradores e figura no rank da revista EXAME. Sim, são Números impressionantes, mas o verdadeiro legado foi criar um ambiente onde técnicos se sentiam empoderados para sugerir melhorias, a formação de líderes locais a ponto de hoje não precisar mais liderar e reconhecer que tem pessoas melhor do que eu, impactar na vida de cada um, extrair o melhor de todos.
A pergunta provocativa – “você vai continuar fingindo que lidera?” – merece uma resposta honesta. Em minha jornada, descobri que liderança autêntica não é sobre ter todas as respostas, mas sobre fazer as perguntas certas. Não é sobre esconder vulnerabilidades atrás de certificações, mas sobre transformar experiências – incluindo fracassos – em sabedoria compartilhada.
Luis Enrique não transformou o PSG sendo um estrategista infalível, mas sendo um líder adaptável e autêntico. Musk não conquistou o que conquistou por ser perfeito, mas por ousar falhar publicamente e aprender rapidamente.
Para os gestores de projetos, consultores e líderes em formação que me acompanham: o convite está feito. Abandonem a segurança dos dashboards quando necessário. Invistam em conhecer profundamente suas equipes. Admitam incertezas sem perder a autoridade. E, principalmente, liderem com o exemplo – não com o PowerPoint.
A verdadeira liderança em projetos complexos não está em dominar todas as metodologias, mas em saber quando quebrá-las. Não está em evitar fracassos, mas em transformá-los em trampolins para o sucesso. E definitivamente não está em fingir que temos controle sobre todas as variáveis, mas em navegar com maestria nas águas turbulentas da incerteza.
Como aprendi nas plataformas de petróleo e reaplico diariamente em consultorias: o mar revolto não escolhe quem vai liderar – revela quem são os verdadeiros líderes.