GIRO ENTREVISTA – Hoje vamos falar de Carapebus, que fica na Costa do Sol (antiga Região dos Lagos)… Uma cidade com nome indígena, que guarda uma combinação rara de história, cultura e belezas naturais preservadas. Conhecida por suas lagoas, trilhas e pelo Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba — um dos maiores tesouros naturais do estado do Rio — Carapebus também tem uma forte ligação com o passado do Brasil. O ciclo do açúcar, as antigas fazendas, as ruínas da antiga usina e até o Cine Carapebus, que já recebeu Roberto Carlos no início da carreira, compõem um patrimônio histórico-cultural de grande valor.
E pra contar tudo isso, o Portal GIRO Costa do Sol conversou com alguém que conhece Carapebus como poucos: o coordenador municipal de Turismo e presidente do Conselho Municipal de Turismo. Juliano Luna. Servidor de carreira há mais de 25 anos, ele começou como guia de turismo no município e também foi condutor ambiental do PARNA de Jurubatiba.
Neste bate-papo, Juliano fala sobre os desafios e potencialidades do município, a importância do patrimônio histórico, os roteiros turísticos em andamento e a conexão entre natureza, cultura e identidade local.
GIRO Costa do Sol – Além das riquezas naturais, Carapebus tem uma forte ligação com a história do Brasil. Quais são os principais marcos históricos da cidade que o você destaca?
Julinano Luna – Nós temos raízes bem profundas na história do Brasil. Um exemplo marcante é a Fazenda São Domingos, que funcionava com cerca de 500 pessoas escravizadas e era parte do ciclo do açúcar. Esse engenho mais tarde virou a Usina de Carapebus, que é responsável direta pela colonização da cidade.
Hoje, as ruínas da usina e também do Cine Carapebus — onde o rei Roberto Carlos chegou a se apresentar no comecinho da carreira — estão ali, lado a lado da antiga estação de trem, que virou a Estação Cultural. Juntos, compõem o circuito do centro histórico de Carapebus, que inclui também a Igreja do Caxangá e a Igreja Matriz, construída por um padre alemão que também era engenheiro. Outro ponto importante é o Canal Campos–Macaé, cujo trecho mais bem preservado atravessa Carapebus, tornando-se referência nacional em conservação de patrimônio hidráulico.
GIRO – Quais são os principais desafios para preservar a história de Carapebus diante do crescimento urbano e da modernização? De que forma o patrimônio histórico-cultural influencia a identidade e o desenvolvimento do turismo na cidade?
Juliano – Sem dúvida, o maior desafio hoje são as ruínas da usina e do cine. Esses locais ainda pertencem a um antigo grupo de usineiros que, infelizmente, não demonstra interesse em conservar ou investir na preservação.
Isso é uma pena, porque esses espaços poderiam estar contando a história da cidade, do país e recebendo visitantes. O turismo cultural tem um potencial enorme, e esses patrimônios são peças-chave. Eles ajudam a construir a identidade da cidade, valorizam o que é nosso e podem ser o diferencial que atrai um público interessado em mais do que sol e praia.
GIRO – Existe algum plano ou projeto em andamento para transformar a história de Carapebus em um produto turístico estruturado, que possa atrair visitantes interessados no patrimônio cultural da cidade?
Juliano – Sim! Apesar dos desafios, ações já estão em andamento para estruturar a história local como produto turístico. Por meio de um consórcio regional, o Cidennf (Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense), Carapebus passou a integrar roteiros culturais e ecológicos intermunicipais. Um dos destaques é o roteiro “O Pouso da Carapeba”, que parte do centro histórico da cidade e se encerra com um passeio de barco na maior lagoa do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba — a Lagoa de Carapebus, que, segundo estudos recentes, já foi a antiga foz do Rio Paraíba do Sul.
Esse roteiro é muito especial, porque conecta história, cultura e natureza em uma experiência completa.
GIRO – O Parque Nacional de Jurubatiba é uma joia natural da região da Costa do Sol (antiga Região dos Lagos). Qual é a importância dele para o turismo em Carapebus?
Juliano – O parque realmente é uma joia! Em Carapebus, ele ocupa praticamente toda a faixa litorânea. E abriga dois grandes atrativos: a Lagoa de Carapebus, que é ótima pra atividades náuticas e lazer, e a Lagoa Encantada, que é menor, mas super procurada por quem curte aventura, off-road e ecoturismo por seu acesso restrito por trilhas e trechos de areia.
Entre as trilhas mais conhecidas dentro do parque, destacam-se a Trilha do Castelo e a Trilha da Encantada. A visitação segue as regras de unidades de conservação federais, exigindo autorização prévia para entrada de veículos, embora o acesso a Praia de Carapebus, pela estrada-parque, seja livre.
GIRO – O canal Campos-Macaé, um dos maiores canais artificiais do mundo, também passa por áreas do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Como a coordenadoria de Turismo enxerga essa integração entre patrimônio histórico e natural?
Juliano – O canal é uma maravilha que todo mundo precisa conhecer. Em Carapebus, ele passa por dentro do parque e, por estar protegido, virou um dos trechos mais bonitos. Muita gente faz trilha aquática por lá — seja de caiaque, ou stand-up paddle. Um fato interessante é que ele abriga uma rocha considerada única no mundo, que só existe ao longo desse trecho preservado do Canal. É um lugar paradisíaco que encanta quem visita.
GIRO – Quais são os principais desafios enfrentados pela coordenadoria de Turismo de Carapebus atualmente? E quais políticas públicas estão em andamento para incentivar o turismo sustentável no município?
Juliano – Um dos desafios é justamente fazer com que os próprios moradores conheçam e valorizem tudo isso que a gente tem. Estamos desenvolvendo um circuito de cicloturismo que percorre uma das vias mais antigas do país: a antiga Estrada dos Correios Imperial. Em Carapebus, essa rota histórica se divide em dois caminhos — um em direção a Macaé e Conceição de Macabu, e outro seguindo para Quissamã — cruzando três unidades de conservação municipal e passando em frente à igreja mais antiga ainda preservada na cidade.
A ideia é conectar as belezas naturais com a história viva do município, de forma sustentável. Com paisagens ideais para caminhadas, ciclismo, esportes aquáticos e atividades ligadas ao turismo de base cultural, Carapebus é um destino completo para quem busca experiências autênticas que unem natureza, patrimônio histórico e tranquilidade.