O documentário lançado na semana passada reúne relatos sobre os efeitos da instalação e expansão do Complexo Portuário do Açu, localizado no município de São João da Barra, no norte do estado do Rio de Janeiro. Intitulado “Açu dos Desgostos”, a produção aborda mudanças no território e em modos de vida de comunidades tradicionais da região, além de impactos ambientais registrados nos arredores do empreendimento.
A apresentação do vídeo ocorre em um momento de destaque para o Brasil no cenário internacional, às vésperas da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que será realizada em novembro deste ano, em Belém (PA). A obra aborda os efeitos da instalação e expansão do Complexo Portuário do Açu, um megaprojeto industrial localizado no município de São João da Barra. O filme revela como comunidades pesqueiras e rurais vêm sendo removidas ou desestruturadas, com perdas irreversíveis em modos de vida tradicionais e impactos severos sobre os ecossistemas costeiros.
“A ausência de consulta prévia às comunidades afetadas pelo empreendimento viola convenções internacionais, como a Convenção 169 da OIT, frequentemente discutida em eventos como a COP”, afirma o biólogo Thiers Wilberger, um dos idealizadores do Observatório Terrapuri.
O documentário ressalta ainda o que especialistas chamam de “colonialismo verde” – práticas que, mesmo sob o discurso de sustentabilidade, mantêm a lógica de exploração e exclusão de populações tradicionais. Segundo o filme, os atingidos pelo projeto enfrentam o que é descrito como racismo ambiental, um fenômeno em que populações historicamente vulneráveis são desproporcionalmente afetadas por degradações socioambientais.
A produção do Terrapuri conecta esses temas ao contexto local, alertando que não é possível avançar em soluções climáticas sem garantir participação social, respeito aos territórios e justiça ambiental. O documentário se propõe, assim, não apenas a denunciar, mas a provocar reflexão sobre qual modelo de futuro está sendo construído no país.
“Não basta falar em sustentabilidade”, conclui o filme. “É preciso que as soluções climáticas respeitem os direitos das populações tradicionais e os limites dos ecossistemas.”