GIRO MACAÉ – A restinga da Praia do Pecado, em Macaé, será palco da segunda fase do projeto “Restinga Boa é Restinga Nativa”. Para apresentar a iniciativa à sociedade, a Secretaria de Ambiente, Sustentabilidade e Clima (Semas) convocou uma audiência pública, marcada para o dia 2 de setembro, das 10h às 14h, no auditório Cláudio Ulpiano, na Cidade Universitária. O evento é gratuito e aberto, sem necessidade de inscrição.
O trabalho começa oficialmente no dia 8 de setembro, diretamente na restinga. A ação consiste na retirada de espécies exóticas que, apesar de chamarem atenção pelo porte ou pela sombra, acabam sufocando a vegetação nativa e comprometendo todo o ecossistema. Entre elas estão as amendoeiras, casuarinas, yucas, cactos invasores e gaiolinhas.
A restinga é muito mais que paisagem: ela protege a orla da erosão, ajuda a manter a qualidade da água e abriga aves, crustáceos e espécies raras como o sabiá-da-praia e o tiê-sangue. Para o coordenador jurídico da Semas, Hélio Márcio Porto, a audiência pública é uma forma de trazer a comunidade para o debate: “A área da Praia do Pecado é ponto de parada de aves migratórias e guarda espécies únicas. Recuperar essa vegetação significa devolver equilíbrio ao ecossistema. Quando as espécies naturais voltam, as invasoras perdem espaço”, explicou.
O projeto é respaldado pela Lei da Mata Atlântica e por legislações municipais, com acompanhamento do Ministério Público Federal. Também participam o Ibama, o Nupem/UFRJ-Macaé, a ONG SOS Praia do Pecado, além de representantes do Ministério Público Estadual e da Câmara Municipal.
Durante a execução, alguns trechos da Praia do Pecado e da Lagoa de Imboassica serão interditados. Após a remoção das espécies invasoras, a fase seguinte será o plantio de mudas nativas, em mutirões voltados para recuperar e fortalecer o ecossistema local.
Espécies exóticas que serão removidas:
Amendoeiras (Terminalia catappa) – Quando presente em ecossistemas de restinga, apresenta rápido crescimento e grande porte, sombreando e inviabilizando o desenvolvimento da vegetação rasteira e arbustiva nativa, além de alterar a composição do solo e a dinâmica de nutrientes.
Yucas (Yucca spp.) – Em ambientes naturais, podem se proliferar de forma descontrolada, formando adensamentos que suprimem a flora nativa e alteram a estrutura do habitat, reduzindo a diversidade de espécies e a funcionalidade do ecossistema.
Cactos invasores – Algumas espécies de cactos exóticos, como palmatória [Opuntia dillenii (Ker Gawl.) Haw.] e palma-doce [Nopalea cochenillifera (L.) Salm-Dyck], nativas do México e América Central, têm o potencial de formarem densas colônias que sufocam a vegetação nativa, além de apresentarem desafios para a circulação de fauna e manejo humano. A sua presença desequilibra as relações ecológicas naturais da restinga.
Casuarinas (Casuarina equisetifolia) – Amplamente reconhecida como uma das espécies invasoras mais agressivas em ecossistemas costeiros, possui rápido crescimento, alta capacidade de dispersão e alteração química do solo, inibindo o crescimento de plantas nativas e formando densas monoculturas que empobrecem a biodiversidade local e alteram os ciclos biogeoquímicos. A remoção de indivíduos vivos ou mortos é crucial para a reabilitação da área.
Gaiolinhas (Tradescantia spp.) – Apresentam crescimento rasteiro e veloz, formando densas coberturas que competem severamente com as espécies herbáceas e arbustivas nativas da restinga, impedindo sua regeneração e desenvolvimento e alterando a composição do sub-bosque.