Não é mais novidade para ninguém que os indicadores macroeconômicos têm demonstrado um crescimento do PIB neste ano. Apesar da euforia do Governo e de apoiadores do governo, externos e internos, a expansão do PIB, nos traz um pouco de insegurança. Na verdade, uma insegurança bem generosa, porque essa expansão não significa que o país necessariamente está crescendo, como é o caso do Brasil. Diferentemente de outros lugares, quando existe a elevação do PIB, significa que o país está em desenvolvimento, por isso é importante analisar a expansão de um país em relação ao aumento do PIB, porque o crescimento pode ser estruturado ou pode ser um choque acontecendo dentro de um país, ou entre investimentos internos, externos ou do Governo.
No caso do Brasil, a expansão se deve principalmente devido a injeção de dinheiro público na economia, de praticamente R$ 50 bilhões dos precatórios que ocorreu este ano. Isso faz com que aumente o consumo das famílias que receberam esse dinheiro que até então, estava represado por muito tempo, além do gasto público, onde vem as contratações, alguns tipos de obra e aumento da máquina pública (folha de pagamento). O aumento da máquina pública tem efeito direto na economia, obviamente mais pessoas trabalhando, mais pessoas comprando, seja trabalhando de forma direta na administração pública, ou seja, através de obras promovidas pelo governo.
Porém, isso não significa que trata de um crescimento estruturado do PIB brasileiro, onde podemos chegar a esse ponto. Vamos analisar um exemplo: ‘Se uma empresa resolve investir, vamos imaginar uma empresa que fabrique peças, e a demanda por peças aumentou. A empresa faz investimentos, compra maquinário, aumenta a sua estrutura física, aumenta a quantidade de mão de obra trabalhando para poder atender a esse consumo que tem aumentado organicamente.
Quando nós analisamos do começo para o fim, quando tirarmos uma fotografia antes de um investimento para depois do investimento, veremos que essa empresa cresceu e esse crescimento vai ser mantido porque a nova demanda necessita daquela quantidade de peças produzidas.
Infelizmente, no Brasil é o oposto! O que nós estamos vendo é uma injeção de dinheiro que estava represado no passado, que não será injetado novamente nos próximos anos, porque já foi injetado este ano, e o crescimento do custo da máquina pública é contrária ao crescimento do país.
Então, é a mesma coisa que você, na sua casa, gastar mais do que recebe. Então, você recebe 3 mil de salário e você tem um custo mensal de 4 mil. Isso significa que ao longo do tempo toda a sua reserva vai ser consumida a ponto de que todo mês você vai se endividar. E é isso que está acontecendo. O Brasil aumentou muito a sua receita, com novos impostos, retirando incentivos fiscais, como foi o caso do combustível.
Porém, aumentou o gasto público com projetos sociais, Bolsa Família, Precatórios e toda assistência oferecida ao cidadão. Logo, a receita aumentou, só que as despesas aumentaram ainda mais. Esse desequilíbrio vai fazer com que as contas públicas possivelmente fechem no vermelho.
Este ano, a previsão era que fechasse no 0 a 0, mas existe um rumo de algo em torno de R$ 40 bilhões, no qual o Haddad está tentando, de todas as formas, conseguir para poder pelo menos fechar no 0 a 0. Porém, para o ano que vem o cenário é ainda pior.
Por que ainda é pior? Porque uma vez que o crescimento se deve através da injeção de dinheiro e não do crescimento orgânico, esse dinheiro no próximo ano vai acabar. Porém, a inflação que foi acumulada por conta da injeção do dinheiro em 2024 vai afetar quem estava consumindo, que já não consume mais, porque este dinheiro foi gasto durante este ano e agora o preço das mercadorias estão mais caros.
Por que os preços das mercadorias são mais caros? Porque houve um excesso de demanda e não houve o crescimento estruturado para atender esse excesso de demanda. Portanto, quando existe muita demanda e baixa oferta aquilo que é ofertado fica mais caro. Imagina que a população está querendo comprar mais maçãs, só que a produção de maçã brasileira é de 10 milhões e a demanda agora está sendo de 12 milhões.
Então aquela maçã que custava 1 real vai começar a ficar mais cara, porque ela vai ficar mais escassa. Uma vez que ela ficar mais escassa ela vai passar a valer R$ 1,20, R$ 1,30, R$ 1,40 até o ponto de não ter mais. E então quando a gente chega no próximo ano a gente vai ver essa maçã custando 1,40 e a pessoa sem dinheiro para comprar.
A maçã vai poder estragar ou então a pessoa vai ter que se endividar mais ainda para poder comprar aquela maçã ou então o produtor vai deixar de vender porque não tem ninguém comprando. Porque ficou muito caro e a população não está conseguindo comprar. Por esse motivo a gente não espera mais esse crescimento para o próximo ano e é essa a mesma visão que o FMI está tendo.
Logo o Senado pode ainda ficar pior, porque uma vez que as contas públicas não conseguem fechar, ao menos equilibrar ficando pelo menos no 0 a 0, muito menos ficar no positivo para poder pagar essa dívida uma vez que a receita não está acompanhando a despesa. O Governo pode emitir dinheiro, aumentar a emissão de dinheiro de moeda. Se ele fizer isso é mais ladeira abaixo ainda porque o nosso dinheiro desvaloriza porque está sendo impresso o dinheiro sem a necessidade sem ser estruturado.
Ou seja, o nosso dinheiro vai perdendo o valor. A moeda estrangeira vai ficando mais cara porque ela vai ficando mais escassa e tudo que é aquilo que é importado vai custeando mais. Se tornando um ciclo vicioso extremamente negativo.
A única forma de poder evitar um cenário mais drástico, porque a possibilidade de ter um cenário drástico é muito grande no próximo ano, é se realmente o Governo parar de brincar e de fato reduzir as suas despesas e parar de aumentar a máquina pública.
Essa é a primeira etapa e o outro é promover o crescimento estruturado através de apoio às empresas, a indústria e ao comércio oferecendo treinamento e qualificação para as pessoas porque hoje existe uma quantidade de desemprego, por falta de capacitação. Ou seja, as empresas estão com dificuldades de contratar porque as pessoas que estão procurando emprego não têm qualificação para o trabalho. Então as empresas passam por um processo de qualificação e certificação que precisa ser feito.
De acordo com os medidores do desemprego no país, as taxas de desemprego diminuíram, porque eles só mensuram aquelas pessoas que realmente procuram pelo emprego, aquelas que não procuram não faz parte do índice. Ou seja, parece que o desemprego está baixo, mas é porque se exclui aquelas pessoas que não procuram. Quem são essas pessoas que não procuram.
São pessoas que vivem de Bolsa Família ou de outro tipo de assistencialismo. Às vezes, uma família tem duas, três, quatro pessoas, uma recebendo assistencialismo e as outras sem trabalhar porque aquilo é o suficiente para que eles possam viver. E aí consequentemente tem menos mão de obra no mercado para dar conta de um crescimento estruturado.
Então é preciso repensar esse modus operandi do Governo para que evite um cenário mais drástico para o próximo ano. Os números parecem bons, mas às custas de uma economia que não está verdadeiramente bem, estruturada e essa conta vai chegar.