GIRO NA ECONOMIA – Na semana passada, o mercado macroeconômico acompanhou o que já se convencionou chamar de Super Quarta. O termo, amplamente utilizado por economistas e profissionais do mercado financeiro, define o dia em que os principais bancos centrais do mundo anunciam suas decisões sobre política monetária, especialmente no que diz respeito às taxas básicas de juros. Entre os principais destaques estão o Federal Reserve (FED), nos Estados Unidos, e o Banco Central do Brasil.
No cenário brasileiro, não houve mudança significativa. O Banco Central optou por manter a taxa básica de juros no mesmo patamar, embora o mercado espere um tom mais brando no relatório oficial. Já nos Estados Unidos, o FED decidiu reduzir a taxa básica de juros, movimento que tende a estimular a atividade econômica, ampliar o consumo e favorecer investimentos.
No Brasil, especialistas avaliam que a partir da próxima reunião do Banco Central já pode haver o início de um ciclo de redução dos juros. Essa expectativa está relacionada, em grande parte, à estabilização do mercado de trabalho. Embora o país registre um dos menores níveis de desemprego da história, é importante observar como esse indicador é calculado.
Na estatística oficial, não entram no cálculo do desemprego pessoas que recebem algum tipo de assistencialismo ou que não estejam ativamente procurando trabalho. Assim, apenas aqueles que não recebem benefícios e estão em busca de uma vaga são considerados desempregados. Sob essa ótica, estima-se que apenas cerca de 25% da mão de obra qualificada disponível esteja efetivamente ocupada, enquanto o restante vive de alguma forma de assistência, ficando fora das estatísticas formais.
Apesar disso, os indicadores de inflação mostram sinais positivos. As últimas apurações apontam que a inflação está próxima do controle, convergindo para a meta estabelecida pelo Banco Central. A expectativa é de que, em 2025, o índice fique bem próximo do centro da meta. Esse cenário é reforçado pelo comportamento da população economicamente ativa, que tem mantido salários estáveis, sem grande estímulo ao consumo, o que contribui para conter pressões inflacionárias.
Com a inflação sob controle e o consumo ainda moderado, o Banco Central passa a ter espaço e instrumentos para iniciar uma trajetória de redução da taxa básica de juros. A expectativa é que já na primeira reunião do próximo ano a taxa seja reduzida em 0,25 ponto percentual, com cortes graduais entre 0,25 e 0,50 ponto percentual nas reuniões seguintes, ao longo de 2025.
Esse movimento tende a trazer impactos positivos para a economia, especialmente no setor de consumo e no ambiente de negócios. Com juros menores, o crédito se torna mais acessível, o custo do dinheiro diminui e as empresas — principalmente as de grande porte e intensivas em capital — voltam a considerar a tomada de empréstimos para investir em expansão, modernização de maquinário e crescimento produtivo.
Durante o período de juros elevados, esse tipo de investimento ficou represado, uma vez que a taxa básica em torno de 15% ao ano tornava mais atrativo aplicar recursos em investimentos de baixo risco, como fundos de renda fixa, que chegam a render cerca de 1% ao mês. Esse cenário desestimula a criação e a ampliação de negócios, já que investir em renda fixa se torna mais seguro e barato do que assumir riscos produtivos.
À medida que a taxa básica de juros começar a cair, o estímulo à economia tende a aumentar, assim como a circulação de dinheiro. No entanto, esse processo precisa ocorrer de forma gradual e responsável, para evitar choques econômicos e a perda do controle inflacionário. O Banco Central tem experiência nesse tipo de condução e deve seguir com cautela nas próximas decisões.
O Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por definir a taxa básica de juros, se reúne a cada 45 dias, e suas próximas decisões serão determinantes para o ritmo da economia brasileira.
Vitor Vargas
V.V Consulting














