GIRO NA MENTORIA – Existe um fenômeno sutil acontecendo diante dos nossos olhos. Um tipo de louvor silencioso à exaustão. Uma devoção quase religiosa às metas inalcançáveis. Um culto à disciplina que, quando você olha de perto, não passa de autocobrança fantasiada de virtude.
E quanto mais a sociedade aplaude essa postura, mais pessoas se perdem dentro dela.
Eu vejo isso todos os dias: gente boa, talentosa, brilhante, se destruindo lentamente enquanto repete frases prontas sobre foco, consistência e performance. O discurso é bonito, mas a prática é um campo minado emocional.
No fundo, estamos alimentando a hiperprodutividade emocional, essa engrenagem que engole pessoas com a promessa de que “se você fizer mais, vai finalmente se sentir suficiente”.
Só que nunca chega.
Nunca basta.
Nunca descansa.
E aqui começa o desconforto:
Muita gente não está sendo disciplinada.
Está sendo refém.
Refém da própria necessidade de provar valor.
Refém do medo de decepcionar.
Refém de um padrão interno que ninguém pediu, mas que você insiste em cumprir como se sua existência dependesse disso.
E depende, né?
Pelo menos na sua cabeça.
Porque quando a autoestima é construída em cima da entrega, qualquer pausa soa como fracasso.
Qualquer descanso parece preguiça.
Qualquer erro vira sentença. Eu sei bem disso!
A autocobrança vira chicote.
E você vira a própria carrasca.
A verdade é simples, mas ninguém tem coragem de admitir:
Tem gente se matando para alcançar padrões que nem fazem sentido.
E chamando isso de disciplina.
Disciplina é direção.
Autocobrança tóxica é distorção.
Disciplina é você se sustentar.
Autocobrança é você se punir por existir fora do ideal que inventou.
E o que me inquieta de verdade é que essa cobrança não surge do desejo de crescer. Ela nasce da falta de vínculo consigo mesma.
Quem vive em guerra interna não sabe reconhecer limite, porque não sabe reconhecer dor.
E quando não reconhece dor, transforma tudo em meta.
Você já reparou nisso?
Tem gente que cria metas para não sentir.
Se ocupa para não pensar.
Se exige para não encarar a própria história.
E, nesse jogo, não é a disciplina que empurra.
É o medo.
Medo bruto.
Medo mudo.
Medo maquiado de foco.
Um medo tão convincente que a pessoa acredita que está no controle, quando na verdade está só obedecendo a uma versão emocionalmente ferida de si mesma.
E é aqui que a reflexão precisa apertar:
Quantas vezes você disse “eu preciso ser forte”, quando na verdade precisava era ser honesta?
Quantas metas você traçou para esconder o fato de que está cansada?
Quantas vezes usou produtividade como cortina para não admitir que está sangrando num lugar que ninguém vê?
Dói.
Eu sei.
Mas dói mais continuar vivendo como se o seu valor estivesse no que você entrega, e não em quem você é.
Talvez esteja na hora de parar de chamar autossabotagem de disciplina.
Parar de romantizar cansaço.
Parar de premiar autocrueldade.
Talvez — e aqui é onde muita gente tropeça — você não precise de mais metas.
Precisa de consciência emocional.
De maturidade interna.
De coragem para derrubar a narrativa de “eu aguento tudo” e começar a agir como alguém que se respeita, não como alguém que se explora.
A pergunta final não é confortável, mas é necessária:
Você está perseguindo resultados…
ou está fugindo de si mesma?
Porque se a resposta for a segunda, não existe planilha, rotina, mantra ou planner que te salve.
Mas existe uma escolha: olhar para dentro e aprender a conduzir sua vida sem se destruir no processo.
E é desse ponto que a verdadeira disciplina nasce: não do excesso, mas da consciência.
Do equilíbrio.
Da coragem de ser inteira, não eficiente.
Esse é o tipo de conversa que muda comportamento.
E, se você permitir, muda destino também.
Se esse texto cutucou algum ponto seu, talvez seja justamente porque você sabe que já passou da hora de reorganizar não só suas metas, mas a forma como você se enxerga e se trata.
Se quiser dar o próximo passo com consciência, profundidade e técnica, deixo aqui meus canais de contato:
Priscilla Cruz
Mentora, palestrante e psicanalista.














