GIRO NA PSICOPEDAGOGIA – Algumas crianças surpreendem pela capacidade de ler muito cedo, reconhecendo letras e palavras antes mesmo de completar cinco anos. Esse fenômeno, chamado de hiperlexia, chama atenção pelo contraste entre a leitura precoce e a dificuldade de compreender aquilo que foi lido. É como se o cérebro funcionasse como um scanner rápido: decifra símbolos com facilidade, mas nem sempre acompanha o sentido do texto. Em muitos casos, a hiperlexia aparece acompanhada de grande interesse por números, letras e placas, além de preferência por rotinas, repetições e temas muito específicos. Embora não seja considerada um diagnóstico isolado, costuma estar associada ao espectro autista ou a altas habilidades.
Outra característica que pode surgir no desenvolvimento infantil é o hiperfoco, um estado de atenção profunda em um único tema ou atividade. Nessas situações, a criança pode passar longos períodos dedicada a algo que desperta seu interesse, como montar blocos, desenhar mapas ou pesquisar curiosidades sobre assuntos preferidos. Durante esse período, o entorno parece desaparecer; o foco fica inteiramente concentrado na atividade, o que favorece a memória e o detalhamento, mas pode dificultar mudanças de tarefa ou a participação em atividades que não envolvam aquele assunto específico.
Reconhecer esses sinais exige observação cuidadosa. Quando a leitura precoce não vem acompanhada de compreensão, quando um interesse específico domina a maior parte das conversas e brincadeiras, quando a criança demonstra resistência a mudanças de rotina e uma memória excepcional para informações detalhadas, é natural que familiares e educadores se questionem se há algo além de simples curiosidade ou habilidade. Esses indícios não substituem uma avaliação profissional, mas servem como ponto de partida. A orientação mais segura é recorrer a uma avaliação interdisciplinar, envolvendo psicopedagogia, fonoaudiologia, psicologia e neurologia, para compreender o perfil de desenvolvimento de forma ampla e cuidadosa.
O apoio adequado pode transformar essas características em ferramentas de aprendizado. Valorizar os interesses da criança e usá-los como ponto de partida para introduzir novos conteúdos ajuda a ampliar sua compreensão. Variar atividades de forma gradual, inserir pequenas pausas e trabalhar habilidades sociais por meio de jogos e interações lúdicas contribui para o desenvolvimento integral. Mais do que tudo, é importante evitar rótulos e comparações. Cada criança constrói seu percurso de aprendizagem de maneira própria e única.
No fim das contas, tanto a hiperlexia quanto o hiperfoco revelam formas diferenciadas e, muitas vezes, brilhantes de perceber o mundo. Em vez de encarados como obstáculos, podem se tornar oportunidades para identificar talentos, estimular novas competências e promover uma educação que acolha a diversidade como parte essencial do processo de aprender e crescer.














