GIRO NO ESPORTE – Quando a bola corre solta pelos gramados da Europa, da América do Sul ou das quadras e pistas pelo mundo, fica evidente uma verdade antiga, mas sempre atual: o futebol – e o esporte em geral – não reconhece fronteiras. E talvez seja justamente por isso que está na hora de a Seleção Brasileira também parar de reconhecer as suas quando o assunto é treinador.
A Champions League segue em ebulição. Bayern, Arsenal e Inter de Milão dividem a liderança, com o Manchester City fechando o G4. É aquela fase de grupos que engana: parece tranquila, mas costuma guardar surpresas até o último minuto de janeiro. No jogo jogado, pouco importa o idioma do técnico na beira do campo. Importa a ideia. Importa a leitura. Importa o repertório — e isso se aprende em qualquer latitude.
Na Premier League, o Arsenal lidera, com Chelsea, City e Aston Villa no retrovisor. A liga mais cosmopolita do planeta é também a vitrine da diversidade tática: espanhóis, italianos, alemães, portugueses, argentinos… todos comandando times à moda inglesa. É irônico: os ingleses, donos do jogo, já entenderam que boas cabeças não dependem de passaporte.
Aqui na América do Sul, a Libertadores prepara um choque de gigantes: Flamengo e Palmeiras. Duelo sem favorito, mesmo com os desfalques rubro-negros. Quem erguer a taça chegará ao terceiro título e reafirmará a supremacia brasileira no continente. Botafogo é o atual campeão, enquanto o Independiente segue inalcançável com seus sete títulos. De novo: escolas diferentes, estilos que se cruzam, técnicos que se moldam à história de seus clubes, não ao mapa-múndi.
Até na competição irmã, a Sul-Americana, o Lanús levou o título nos pênaltis em uma final morna, enquanto o Galo amarga mais um ano ruim, apesar dos investimentos. No Brasileirão, o Flamengo caminha para título caso vença o Atlético-MG na MRV Arena e o Palmeiras tropece no Grêmio. Futebol vivo, futebol inquieto — e futebol que exige comando. Competência, não nacionalidade.
A Série B termina com festa de Coritiba, Furacão, Chapecoense e o retorno histórico do Remo após 31 anos. No outro extremo, Ferroviária, Amazonas, Volta Redonda e Paysandu caem. O Voltaço, mesmo com orçamento limitado, deixa aquela impressão de que o planejamento custa mais caro que qualquer reforço.
Cruzar o oceano e entrar no ginásio muda a modalidade, mas não o argumento. A NBA viu Chris Paul anunciar aposentadoria ao fim da temporada. No NBB, o Flamengo domina, enquanto Botafogo e Vasco patinam. Nas quadras da Superliga, Praia Clube lidera a feminina , com Flamengo sendo terceiro, Fluminense, quarto e Tijuca em penúltimo. Osasco lidera o torneio masculino.
E até na velocidade extrema da Fórmula 1, Lando Norris tenta segurar um Max Verstappen que cresce como quem persegue destino inevitável. Com Catar e Abu Dhabi no horizonte, a disputa ainda promete.
Em todas essas cenas, um elemento se repete: a pluralidade funciona. Gera competição. Gera inovação. Gera resultados. O mundo do esporte já entendeu que talento não tem CEP — exceto, talvez, na cabeça de quem ainda insiste que a Seleção Brasileira só pode ser comandada por um técnico nascido aqui.
A camisa amarela é grande demais para caber apenas na nossa fronteira. E o futebol brasileiro, que sempre exportou craques, precisa parar de importar preconceitos. Técnico bom é técnico bom em qualquer parte do planeta. A pergunta não é de onde ele vem, mas para onde ele pode levar o Brasil.














