GIRO NA DIVERSIDADE – O puppy play (ou pup play) é uma prática no universo BDSM/fetiche na qual adultos se envolvem em representação de cães (“pups”) ou cuidadores (“handlers”), usando máscaras, coleiras, roupas ou acessórios específicos. Embora ainda carregue estigma, ela vem sendo objeto de estudos recentes, que apontam para suas facetas sexuais, sociais e identitárias.
O fenômeno tem raízes em subculturas gays/leather e em comunidades queer que exploram identidades alternativas. Alguns praticantes enfatizam o aspecto erótico, outros mais o lúdico ou social. O uso de equipamentos como máscaras (pup hoods), coleiras, jockstraps e outras peças de vestimenta/gear ajudam na imersão na dinâmica do pedaço. Estudos acadêmicos definem puppy play como “role-play kink, uma forma de atuação ou fetiche que pode incluir ou não sexualidade explícita. 
Uma pesquisa comunitária feita com 733 pessoas praticantes de pup play revelou que a maioria está entre 18 e 45 anos; muitos são gays ou bissexuais, mas há diversidade significativa: há pessoas heterossexuais, trans, não-binárias que também participam. 
Nesse estudo, cerca de 71,9% se identificavam como “pup”, ~9,7% como “handler”, e ~18,4% como ambos (“switches”). 
Praticantes costumam adotar nomes “pup” escolhidos, identificarem-se com raças de cachorro (huskies, pastores alemães, entre outras) como parte da persona, e pertencerem a “packs” (grupos comunitários de pup play) ou famílias escolhidas. A comunidade é importante como suporte, com eventos, workshops e espaços específicos que envolvem tanto o aspecto social quanto o afetivo. 
Muitos participantes relatam que o puppy play melhora seu bem-estar mental, ajudando a aliviar tensões, oferecer um espaço de desconexão ou relaxamento, e promover autoaceitação (especialmente em termos de corpo, identidade e expressão pessoal). Um estudo recente (“Being a good boy: pup play, body image, and the self for gay, bi, trans, and queer men”) mostra que, ao encarnar o “pup” em espaços seguros, com acessórios e com pares ou handlers, há transformação na percepção de si diminuem vergonha ou rejeição corporal, aumenta a sensação de liberdade. 
Como em outros fetiches, há desafios: juízo moral de quem não conhece a prática, risco de exageros ou de falta de informação, possibilidade de uso de acessórios de má qualidade ou insegurança no consentimento. Algumas pessoas que participam deixam claro que a prática não está relacionada com zoofilia — é um roleplay entre humanos adultos. 
O puppy play está cada vez mais visível, não apenas nas redes ou eventos privados, mas também como objeto de estudo acadêmico. Mais do que um fetiche, para muitos se torna uma forma de expressão, comunidade, identidade e, possivelmente, de autocuidado. O que parece comum é: consentimento, clareza, comunicação e respeito são centrais quando esses pilares são respeitados, o espaço se torna mais seguro.














