GIRO NA ECONOMIA – Nos últimos meses, o cenário econômico tem mudado com uma velocidade quase impossível de acompanhar. Toda vez que um dado começa a se firmar, surge uma nova informação: uma mudança nas taxas, um anúncio internacional, um movimento cambial, uma lei aprovada — ou não. O tempo entre a análise e a publicação se encurtou tanto que, em muitos casos, o que se fala pela manhã já está desatualizado à noite.
Foi justamente por isso que preferi aguardar. Esperei que algumas peças se encaixassem no tabuleiro antes de compartilhar esta leitura de conjuntura. E agora que alguns sinais se tornaram mais consistentes, aproveito também para transformar esse olhar em artigo, atendendo à convocação sempre atenta da minha editora, Tati, da revista Giro Costa do Sol, que tem sido uma grande vitrine de conteúdo sério, cultural e empreendedor para a nossa região.
Nos últimos dias, o Brasil parece ter entrado em uma trilha de estabilidade econômica que surpreende, à primeira vista, de forma positiva. O dólar em queda, a Bolsa de Valores batendo recordes históricos de pontuação, e as exportações atingindo níveis inéditos. Aparentemente, um cenário ideal. Mas como sempre, a realidade é mais complexa.
A valorização do real, o fortalecimento da Bolsa e o desempenho das exportações não são, necessariamente, frutos diretos de políticas internas consistentes. Pelo contrário: é um reflexo claro de um conjunto de fatores externos, com destaque para os impactos da política tarifária dos Estados Unidos, que atingiu dezenas de países, não apenas o Brasil. Medidas adotadas pelo governo americano criaram resistências globais ao produto norte-americano, abrindo espaço para outros fornecedores — entre eles, o Brasil.
Mesmo tendo sido taxados, os produtos brasileiros continuaram a ter aceitação no mercado internacional, especialmente em segmentos como carne, café e commodities estratégicas. Isso ocorre, em parte, pela alta demanda mundial por esses itens e, em parte, porque o real desvalorizado torna os produtos brasileiros mais atrativos lá fora. O Brasil, nesse sentido, passou a ocupar lacunas deixadas pelos EUA, e com isso ampliou sua presença em mercados que antes estavam fechados ou limitados.
Outro fator decisivo vem da política monetária internacional. O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, reduziu sua taxa básica de juros mesmo diante de déficits gêmeos — comercial e fiscal. Essa queda não foi motivada por questões internas, mas pela pressão dos preços elevados causados por tensões externas, o que impactou diretamente o poder de compra do americano médio.
Por aqui, a taxa Selic segue elevada. Mantida recentemente pelo Banco Central em 15%, ela exerce um papel importante na atração do chamado capital especulativo. Investidores estrangeiros, ao pegarem dinheiro emprestado em países com juros baixos como os Estados Unidos, veem no Brasil uma oportunidade de rentabilidade. O diferencial de juros é tão alto que, em operações estruturadas, é possível obter lucros significativos apenas com o rendimento local. Isso também impulsiona a valorização do real e o aquecimento do mercado de capitais.
A alta da Bolsa brasileira, portanto, está muito ligada à atratividade das nossas ações quando precificadas em dólar. Para investidores internacionais, empresas como Vale, Petrobras e WEG são oportunidades sólidas e baratas. São papéis com fundamentos fortes, mas que, em função da conversão cambial, se tornam ainda mais interessantes. Não à toa, a entrada de capital estrangeiro tem sido constante.
Paralelamente, o dólar vem registrando queda não apenas frente ao real, mas frente a diversas moedas ao redor do mundo — já acumula desvalorização superior a 12% no ano. A dinâmica global indica uma movimentação natural de reequilíbrio. E, curiosamente, essa tendência também pode ter origem política: ao desvalorizar o dólar, os EUA tornam seus produtos mais competitivos no exterior, melhorando sua balança comercial. Ainda que seja um efeito colateral, essa lógica beneficia exportadores americanos e desincentiva as importações, reduzindo o déficit externo.
No entanto, é importante fazer uma pausa e colocar o pé no chão. Apesar dos dados positivos, o Brasil ainda enfrenta graves entraves estruturais. Seguimos tratando temas secundários com mais prioridade do que os assuntos realmente urgentes, como a reforma tributária e o equilíbrio fiscal. Sem avanços concretos nessas áreas, a insegurança jurídica e a instabilidade institucional ainda afastam investimentos duradouros. O ambiente melhora, mas está longe do ideal.
Mesmo assim, o cenário tem criado oportunidades. Do ponto de vista empresarial, é fundamental acompanhar esses movimentos. Entender como a taxa de câmbio, os juros e o comércio internacional influenciam o cotidiano de empresas e consumidores é vital para tomar decisões mais conscientes. Tanto é que, em nosso grupo empresarial, estamos prestes a fechar um dos maiores contratos da nossa história — um processo que levou em conta, desde o início, todas essas variáveis macroeconômicas.
Em breve, pretendo compartilhar os detalhes desse contrato e as novas possibilidades que ele abrirá, inclusive para outros empreendedores e parceiros que queiram se preparar para entrar nesse novo ciclo.
Por ora, sigo agradecido pela atenção de vocês e, se tudo correr bem, me preparo para tirar um período sabático nos próximos meses. Tempo necessário para reorganizar ideias, projetos e, quem sabe, voltar com ainda mais clareza sobre o que está por vir.
Vitor Vargas – V.V. Consulting